segunda-feira, 24 de maio de 2010

Conversa incompleta.

Eu tenho um casal de amigos hilários! Ela é ligada na tomada, a 240 por hora, e ele... Ele, coitado, ainda é movido à lenha! Então, os dois conversando são um show. Porque ele fala, mas ela não tem paciência de ouvi-lo concluir a frase, porque no meio ele pensa, busca a melhor palavra. Aí ela fica impaciente com isso e acaba sempre completando a frase dele, sem que ele consiga concluir um único pensamentozinho sozinho.

- Oi, gente! Vocês por aqui?
- Nós estamos aqui sempre!
- Nunca encontrei vocês!
- É que ficamos sempre nessas mesas aqui por trás. Senta para tomar um café com a gente.
- Vou aceitar. Nada como um cafezinho à tarde para dar um ânimo na vida. E você Fernando, como está? Trabalhando muito?
- Muito... Muito... Estou... Estou num momento onde meu trabalho... Está... Digamos assim...
- Tomando o tempo dele todo.
- É, exatamente. Eu estou num momento onde meu trabalho está tomando todo meu tempo.
- Ah, eu sei como é. Eu também fico assim de vez em quando. Trabalho tanto que mal tenho tempo de fazer xixi.
- O Fernando está praticamente assim. Hoje, pra conseguir sentar com ele aqui pra tomar esse café, tive que marcar com quase duas semanas de antecedência, senão não ia rolar.
- É, a gente acaba absorvido pelo trabalho de um jeito... E você é como eu, né, Fernando? Você gosta do seu trabalho.
- Gosto... Gosto... O trabalho, o meu trabalho no caso, não chega nem ser um trabalho, porque... Eu... Como vou dizer... Eu tenho tanto prazer, né... Que o meu trabalho pra mim é...
- É um lazer. Para o Fernando, o trabalho é um lazer.
- É, pode-se dizer que sim. Exatamente isso, um lazer. Eu te confesso que quando estou fotografando, esqueço que estou trabalhando.
- O Fernando pode fotografar dias a fio que nem percebe se amanheceu, se tomou banho...
- É, eu fico bem... Bem...
- Absorvido.
- Isso, absorvido.
- Eu sou assim também, tenho enorme prazer no que faço.
- Tanto é que, às vezes, me pego falando sozinha! Por exemplo, agora, antes de você chegar, eu estava conversando com o Fernando uma coisa muito séria. De repente, quando eu vejo, ele está olhando para aquela folha, com um olhar perdido, viajando. Eu já conheço o meu eleitorado...
- É que de repente eu achei que aquela folha, vista daqui, com o céu de fundo... Ela...
- Daria uma boa foto.
- Ótima. Isso! E aí eu pensei que... Gostaria...
- De ter trazido sua câmera.
- Exatamente.
- Como eu sabia que isso poderia acontecer, eu já trouxe a sua câmera.
- Carlinha! Que coisa linda! Tá vendo Lolô, uma mulher como essa... Ela...
- Não tem preço. Eu penso em tudo!
- Eu sem você, Carlinha... Eu sou...
- Incompleto.
- Não, não, eu quis dizer...
- Infeliz.
- Não...
- Indeciso.
- Não. Eu sou...
- Tudo isso que eu falei junto!?
- Exatamente! Eu sem você não sei nem terminar uma frase.

Depois disso, começaram a se beijar. Sem muito alarde e sem querer interromper, me levantei da mesa, sem fazer barulho e sem terminar o meu café. Ainda pensei:
- Será que termino meu café?
Mas quando olhei para xícara, Carlinha já tinha feito isso por mim.

Boa semana!

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Por Heloísa Périssé
lolo@odianet.com.br

3 comentários:

escrever, escrever e escrever...

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